Choné é uma ovelha que não segue o seu rebanho. Na realidade, ela conduz os companheiros para situações estranhas. Depois, as ovelhas encontram sempre forma de impedir que o cão de guarda conte ao dono da quinta o que se passou nas suas costas. Quando Choné está por perto, a vida no campo não é a mesma. Passa na RTP2.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
O simplex e os Atestados
Aqui vai mais uma história sobre atestados médicos.SIMPLEX mas pouco ou outro caso de atestado médicoSó posso dizer que sou professora (titular, ora essa) numa escola deste país que , para além de ter uma sala com um quadro interactivo e alguns computadores portáteis do maravilhoso programa de modernização tecnológica do parque escolar, também tem umas escadas assassinas.Todos os anos cai lá alguém. Este ano, caí eu. Escorreguei e como já estou no grupo etário dos sessenta, mais a preocupação de não largar a pasta cheia de testes diagnóstico (que, diga-se de passagem, não auguravam nada de bom) não consegui equilibrar-me e plim! Estatelei-me no chão após galgar, sem querer, dois ou três degraus de uma escada que já viu melhores dias.Ajudada por um colega gentil, fui até à sala dos professores onde me sentei a analisar os estragos. No caso, o pé esquerdo que inchou de imediato como um balão apresentando-se com uma cor suspeitíssima matizada entre o preto e o roxo. Acompanhada por uma funcionária lá fui rumo ao hospital , de táxi. A minha simpática acompanhante foi para a fila do guiché das urgências inscrever-me e quatro horas depois, com o diagnóstico de entorse de tipo 2, incapacidade temporária absoluta por cerca de 3 semanas registados por escrito no "Boletim de Acompanhamento Médico – Anexo II", duas canadianas e com ajuda de terceiros e de um táxi, lá vim para casa. Telefonei para a minha Escola para informar o CE da situação e fui também informada que devia mandar entregar uma cópia do tal "Boletim de Acompanhamento Médico – Anexo II" o mais breve possível. Este impresso é o utilizado quando alguém tem um acidente no local de trabalho, que é o meu caso, e tem que ser preenchido pelo médico responsável pelo diagnóstico e tratamento. No entanto, não serve para provar a incapacidade e/ou a doença. Para isso tem mesmo que ser um atestado passado pelo médico de família. De perna esticada no sofá telefonei então para o Centro de Saúde da minha área de residência, onde fui uma única vez para me inscrever e me ser atribuído um médico de família, o que nunca aconteceu, por não haver mais médicos de família. A senhora que me atendeu explicou-me, não muito simpaticamente, que deveria estar lá, no Centro, um bocado antes das 8:00H para apanhar a senha para ser observada pelo médico substituto. Disse-lhe que não podia ser porque, de momento, não andava nada bem… perguntei se não havia médico para visitas domiciliárias… claro que não. Foi a resposta. Agradeci a gentileza e desliguei.Resolvi então telefonar para o Ministério da Educação na tentativa de perceber como é que, nas minhas condições, podia justificar, nos 5 dias úteis que a lei prevê, as minhas faltas. Liguei para a DGRHE (Direcção Geral dos Recursos Humanos da Educação) na convicção que, pelo nome, seria o sítio mais indicado. A primeira senhora que me atendeu, tinha uma voz parecida com a da senhora do Centro de Saúde, isto é pouco amistosa. Depois de colocar o meu problema ouvi um "mas afinal qué c'a senhora quer?" Respondi que apenas queria ser informada sobre o processo de justificação de faltas. Depois de um "vou passar a chamada" lá veio o responsável pelo serviço, voz masculina e determinada. Voltei a expor o assunto e, sem hesitações, o senhor responsável diz-me que compreende perfeitamente o meu problema e que o serviço tem recebido mais telefonemas do género mas que a lei é a lei e quanto a isso, não se pode fazer nada…eu insisto e pergunto-lhe se tem alguma lógica eu chamar uma ambulância para me levar a um Centro de Saúde para que um médico que nunca me viu, ateste da minha incapacidade. Aí ele diz-me que afinal não preciso de ir. Posso "passar uma procuração a alguém" (foi mesmo isto que ele disse), a alguém que vai ao Centro de Saúde por mim, tira a senhazita e fica à espera 3 ou 4 horas que chegue a sua vez para que o médico substituto olhe para o papel do hospital e escreva noutro papel que eu estou incapacitada para trabalhar durante 3 semanas… Eu argumentei que se pedisse a "alguém" para me fazer esse favor, iria transferir o meu problema para esse "alguém" que também é trabalhador e provavelmente funcionário público e que, por sua vez, iria ver-se aflito para justificar a própria falta. O meu interlocutor pensou dois segundos e voltou a dizer-me que a lei era a lei, que tinha havido muitos abusos e tal, e tal, e que quanto a isso mas que … oh! Ainda podia haver outra solução. Era ir a um hospital privado (disse o nome e tudo) que tivesse acordo com a ADSE e que lá "também passavam atestados" por interposta pessoa, tal como no Centro de Saúde, com a vantagem de ser em horários mais cómodos e sem filas de espera, tipo ao fim da tarde… Meia espantada, meia indignada, continuei a argumentar e a dizer que não ia sujeitar ninguém a resolver-me este tipo de problema e que, sendo assim, não justificaria faltas nenhumas e pronto. Que me instaurassem um processo disciplinar que talvez fosse a única forma de demonstrar a total incoerência desta legislação. Nesta altura, acho que comovi o senhor responsável pelo serviço que me disse, a rematar a conversa, ser possível o Conselho Executivo da minha escola aceitar o atestado do médico de família fora de prazo, isto é, quando eu pudesse andar para ir ao Centro de Saúde, isto é, daqui a 3 semanas… SIMPLEX, não é?
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